sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Recapeios e balançeios

Antes de começar a ler isso aqui, faça uma lista mental de quantas pessoas já lhe falaram, entre familiares e celebridades televisivas, que a vida vai lhe derrubar inúmeras vezes. As formas flexionadas desse chavão também valem, como: "A maior escola é a vida." Ou: "A vida não é um professor tão bom quanto seus pais." E etcetera. Anrram, gosto de escrever etcetera por extenso. Qualquer coisa nesse sentido.
Muito provavelmente, não lembrará de todas as pessoas. Isso porque ouvimos muito. Ouvimos mas não escutamos.
Com certeza, um só dia pode mudar nossas vidas. Podemos bater o dedo na quina da mesa, bem como podemos bater o carro, ou enfiar o dedo na tomada, ou ganhar na loteria. Desde a última vez que escrevi aqui, mudei bastante. 730 dias se passaram. 730 possibilidades diferentes. 730 dias de escolhas. 730 quedas. 730 levantamentos.
Mas a gente aprende, a vida é uma escola!
O fato de ouvir as pessoas não nos garante entendimento. Como pessoas numa igreja que ouvem um sermão mas não entendem nada de fato, ou um jovem que ouve as advertências da mãe e é imprudente da mesma forma. Exemplo mais próximo? Ok. Dentro de casa, no computador. Geralmente a televisão no cômodo ao lado fica ligada em algum canal. Ouvimos tudo o que falam ali, mas não entendemos patavinas. Porque não escutamos. Poréeeem, assim como um pequeno escoteiro para fazer fogo precisa treinar, também somos nós, incapazes de realizar feitos sem instruções. 
Imaginem um garotinho. Pode ser aquele gordinho do Up! Narcejaaaa! Se nunca viu Up!, imagina um garotinho qualquer. Mas você viu, óbvio. Quem não viu? Espero que tenha visto, vou falar dele. Enfim, garoto imaginado, próximo passo: pensem que ele tem todos os instrumentos: a palha, a lenha, a pederneira e o canivete. Mas... Ele não sabe bem o que fazer. Ele está sozinho, perdido na selva, mas teve aquele treinamento. Sabe apenas que o fogo vai pegar na lenha, e que em algum momento ele vai ter que assoprar, mas não lembra ao certo se é depois que sair a faísca ou só quando a fogueira estiver morrendo. Agora imaginem que começa a chover. E logo em seguida aparecem animais-selváticos-que-gostam-de-caçar-durante-a-chuva... 
É... a situação fica tensa pro nosso gordinho. Nervoso, com as mãos suadas, o suor escorrendo, sem saber o que fazer, com a lenha molhada e braço tremendo, de jeito nenhum o fogo ia sair. Na verdade não ia sair uma brasa. Nem ao menos uma faísca. Talvez saísse sangue do gordinho.
O que quero dizer é que: por mais que um dia cheguemos a escutar conselhos bons (Porque sim, existem conselhos maus, e como existem), não há garantia de que vamos nos dar bem na vida. Palestras motivacionais, panfletos emotivos, conversas e mais conversas. Tudo isso é tão.. Tão... Fluido. Etéreo. Intangível. Lindo, de fato, mas... Distante. Se o mini Kim Jong-un ali em cima tivesse treinado antes, queimado uns 3 hectares no treinamento, calejado as mãos usando a pederneira, esfolado o joelho se ajoelhando, muito provavelmente ele saberia como sair daquela situação. Ou prevenindo, ou remediando, tanto faz. Isso não seria muito importante ali, certo?

Último retrato.
A frase que pedi que trouxessem a memória não é nada mais do que verdadeira. A música do Alexandre Pires que não vai sair da cabeça de vocês até o fim do dia, também é uma verdade. Ouvimos isso sempre. A vida nos quebra, nos derruba, nos chuta e ainda cospe na nossa massa disforme no chão. O que não aprendemos em casa, aprendemos na rua, aprendemos na vivência. Essa verdade não é um daqueles clichês que de tanto serem repetidos acabam se tornando verdade. Não, é mais que isso. É, apenas... Verdade. Verdade estampada nas nossas caras em revistas, artigos, poesias, livros, etcetera. Opa.Estamos mais uma vez ouvindo. Mas... Será que escutando? Alô? Alguém aí?...
Aí vem a pergunta: "- Nem todos entendem, certo Narigudinho. Mas e aqueles que entendem e compreendem a profundidade dessa verdade, por que não se agarram a este fato com unhas e dentes e absorvem cada grama de sabedoria por osmose?"
Simplesmente pelo fato de que não adiantaria de nada. Poderíamos ler tudo e assistir 79 palestras sobre o assunto, mas no fim, o que teríamos? A teoria. Teríamos a pura e completa "desnecessidade" da teoria. Claro, entre aspas.
Um pretinho básico sempre dá certo.
O pobre acadêmico estudou como um desvairado e conseguiu formar-se em medicina, mas não teve uma aula prática sequer durante a faculdade. Na sua primeira cirurgia desmaiou. Descobriu ter medo de sangue.
Assim como um limão que só dá o seu sumo depois de espremido, alguns de nós talvez só dêem o seu melhor abatido e estourado. Talvez nós só descubramos nossas fraquezas e nossas forças no limiar da nossa capacidade. E é assim que a vida decidiu nos ensinar estas coisas. Pessoas são diferentes umas das outras, e elas vão lhe machucar. Às vezes sem querer, às vezes de propósito, mas vão, e isso é um fato. 
Cabe a nós decidir o que vamos aprender disso e o que não vamos. Cabe a nós ver onde erramos e onde precisamos melhorar. Cabe a nós, e somente a nós, recapear os buracos, reconstruir nossa estrada. 
Cabe a nós. 
E quando terminarmos, se estiver bem feito, não vai ser qualquer chuvinha que vai estragar o que construímos. Porque dessa vez, sabemos o que estamos fazendo. Dessa vez eu sei o que faço.